Brasileiros levam lista de perguntas a Omaha em busca de conselhos de Warren Buffett

Comunidade da Faria Lima que foi aos EUA para conferência anual da Berkshire Hathaway fala sobre a experiência - e conta que respostas espera do guru dos investimentos

Henrique Esteter Mariana Segala

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O “Woodstock dos capitalistas” está prestes a começar. O encontro anual de acionistas da Berkshire Hathaway (BRK.B), empresa do megainvestidor Warren Buffett, será no sábado (4) – e quem se deslocou até o interior dos Estados Unidos para participar está cheio de expectativa.

“Estar entre tantos investidores de ponta é um aprendizado por si só, e ver Buffett falando sobre a Berkshire e o mercado é uma oportunidade”, diz o analista brasileiro Rodrigo Medeiros, que está pela primeira vez no evento. “Ver presencialmente é diferente de ver pela internet”.

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A reunião da Berkshire é diferente da maioria dos encontros com acionistas promovidos por outras empresas. De um lado, o dia é uma vitrine para as muitas companhias nas quais Buffett tem participação – elas montam estandes na CHI Health Center Arena, em Omaha, no estado de Nebraska, onde ocorre o evento.

De outro, os participantes têm a chance real de fazer perguntas diretamente a Buffett – que será acompanhado no palco por Greg Abel, responsável pelas operações não relacionadas a seguros da Berkshire, e por Ajit Jain, que supervisiona especificamente os negócios de seguros. Os três podem responder até 60 perguntas durante a reunião.

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Eliseu Manica Júnior gostaria que uma das perguntas respondidas fosse a sua. Ele é o fundador da Experato, assessoria de investimentos de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, e está entre as dezenas de brasileiros participantes da conferência deste ano. É sua quinta vez no evento – e nessa, perguntaria a Buffett:

“Com a ascensão de novas tecnologias, como inteligência artificial e blockchain, como o senhor adapta sua estratégia de investimento para identificar e avaliar as vantagens competitivas duráveis em empresas, especialmente aquelas que operam em setores tradicionais?”

— Eliseu Manica Júnior, fundador da Experato Investimentos

Da comunidade brasileira ouvida pelo InfoMoney em Omaha, Manica Júnior está entre os investidores “veteranos” na Berkshire – ele tem os papéis desde 2019, período em que calcula ter ganhado cerca de 100% com eles. Já Lucas Biolchini, analista da XP Asset, é mais recente na base acionária da empresa. Investe há cerca de um ano e meio, com ganhos de 30%.

Ir à conferência era um desejo antigo, diz Biolchini, acelerado pelo falecimento de Charlie Munger – o sócio de longa data de Buffett morreu em novembro de 2023, aos 99 anos. “A chance de ‘respirar o ar de Omaha’ e de conhecer pessoas do mundo todo que também têm Buffett, Munger e a Berkshire como inspirações me animou”. Sua pergunta ao megainvestidor?

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“Perguntaria sobre os recentes investimentos em empresas japonesas, para entender melhor sua visão sobre o perfil de crescimento delas e a alocação de capital”

— Lucas Biolchini, analista da XP Asset

A edição de 2024 também é a estreia de Renato Breia, sócio-fundador da Nord Investimentos, nas conferências da Berkshire. Só a “caravana” da Nord seguiu para Omaha com 12 pessoas. “Faria a ele uma pergunta sobre investimento de longo prazo”, diz.

“ Com o mundo mudando tão rapidamente rápido , o ‘long term investment’ ficou mais ‘short’? As mudanças no portfólio dele também aceleraram”

— Renato Breia, sócio-fundador da Nord Investimentos

Risco climático, excesso de caixa, economia dos EUA

Entre outras perguntas que podem ser endereçadas a Buffett há temas mais espinhosos – riscos climáticos, por exemplo. A empresa de energia PacifiCorp – que está no portfólio da Berkshire – é alvo de reclamações de responsabilidade por incêndios no Oregon em 2020.

Outras investidas também enfrentaram litígios que podem despertar a curiosidade dos investidores. A imobiliária HomeServices of America assinou recentemente um acordo de US$ 250 milhões (R$ 1,3 bilhão) para liquidar uma ação judicial envolvendo comissões pagas aos corretores. Ainda nesta semana, foi alvo de uma nova reclamação de um grupo de compradores de casas, acusando a corretora de inflacionar as comissões.

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Buffett costuma ver seu vasto império empresarial como um barômetro da saúde econômica dos EUA – e muitos investidores devem buscar indicações quanto a isso na sessão de perguntas e respostas. A inflação e os juros mais altos podem pesar sobre os negócios industriais, de serviços e de varejo da Berkshire, embora essas operações tenham se mostrado resilientes.

No ano passado, ele previu que a maioria das empresas da Berkshire reportaria ganhos mais baixos – o que não aconteceu. A empresa teve lucros operacionais de US$ 8,48 bilhões no quarto trimestre, acima dos US$ 6,63 bilhões do ano anterior.

Também haverá quem queira saber sobre um problema, digamos, sui generis que a Berkshire enfrenta nos últimos tempos: excesso de dinheiro sem ter em que gastar, uma vez que os valuations elevados nas bolsas reduziram o rol de empresas candidatas.

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O caixa da empresa saltou para um recorde de US$ 167,6 bilhões no final de 2023 – e os analistas preveem que o volume poderá ter crescido nos resultados que a Berkshire vai anunciar no sábado. “Buffett vai manter essa posição de caixa até que as pessoas fiquem mais negativas em relação às ações”, diz Bill Smead, diretor de investimentos da Smead Capital Management. (Com informações da Bloomberg)

Henrique Esteter

Henrique Esteter é coordenador multiplataforma do InfoMoney