Lucros das empresas nos EUA devem disparar no 1º tri, mas ações podem não seguir resultados, avaliam analistas

Temporada de balanços do período entre janeiro e março inicia nesta quarta e quase todos os setores devem ver números bem acima de um ano atrás

Rodrigo Tolotti

(Getty Images)

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SÃO PAULO – Nesta quarta-feira (14) começa a temporada de resultados do 1º trimestre deste ano nos Estados Unidos. E, cerca de um ano após o choque da pandemia do coronavírus, analistas esperam que as empresas mostrem um forte crescimento em seus principais números do balanço quando comparados com o mesmo período de 2020.

Com a crise tendo início em março do ano passado, as companhias já tiveram seus balanços impactados naquele primeiro trimestre, enquanto o cenário atual é de recuperação, por isso a projeção é de uma melhora expressiva entre os dois períodos. E a diferença deve ser ainda maior no segundo trimestre.

Essa é a visão do Credit Suisse, que espera uma alta de 21% nos lucros por ação (EPS, na sigla em inglês) no primeiro trimestre na comparação anual, contra um avanço de apenas 1% apresentado no fim do ano passado. Já para o período entre abril e junho, os analistas apontam para uma alta de 51% nos lucros também frente igual período do ano anterior.

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Além da base de comparação mais fraca de 2020 e da recuperação econômica pela qual os EUA passa, o Credit também aponta a recuperação dos preços das commodities nos últimos meses como um fator para impulsionar os lucros, que devem atingir seu ápice exatamente no segundo trimestre.

Visão parecida tem o Bank of America, que vê os lucros subindo 20% no primeiro trimestre e com uma possível revisão para cima no próximo período. Apesar disso, os analistas ressaltam que mesmo com essa melhora, os lucros por ação das companhias estão apenas 1,7% acima do nível pré-Covid.

O banco americano também alerta para um cenário em que o mercado pode não refletir tanto essa alta nos resultados das companhias da Bolsa.

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Segundo os analistas, no quarto trimestre de 2020, as empresas que superaram as projeções em EPS e receita tiveram um desempenho, em média, 0,1 ponto percentual abaixo do S&P 500 um dia após a divulgação. “A única vez na história (desde 2000) que vimos um alfa negativo foi no segundo trimestre de 2000, no auge da bolha tecnológica”, destacam os analistas do BofA.

Com esse desempenho no trimestre passado e com uma alta de 5% do índice desde a temporada passada de balanços, os analistas acreditam que a superação das projeções pode não se traduzir em ganhos das ações. Para eles, as análises, comentários dos diretores e as projeções das companhias serão mais importantes que os números em si.

Os setores para se ficar de olho

Apesar de projetar alta no lucro por ação de quase todos os setores no primeiro trimestre, o Credit aponta para quatro áreas de negócios para o investidor ficar atento: cíclicos, financeiros, tecnológicos e não-cíclicos.

Dentro do setor dos cíclicos, os analistas destacam as empresas cujos bens produzidos são discricionários, ou seja, não-essenciais (mais sujeitos a variações dos ciclos econômicos), que devem ter um crescimento da mais de 100% nos lucros, por conta de uma forte melhora nas companhias automotivas (que devem subir mais de 500%), além das softline (200%) e de bens duráveis e vestuário (100%).

No segmento de básicos, por outro lado, o Credit vê uma contração para as empresas de petróleo, combustíveis e da indústria, que por sua vezes serão pressionadas pelas companhias aéreas, mas que ambos os setores devem registrar forte alta no segundo trimestre com a reabertura da economia ganhando força.

Já as empresas financeiras, que foram a grande surpresa do quarto trimestre de 2020 ao ter alta de 24% nos lucros, de acordo com o banco suíço, tem uma expectativa de ver o EPS saltar mais de 150%, puxadas por taxas de juros maiores, maior investimento e operações por parte dos clientes, além da melhora do cenário de crédito.

Do lado das empresas com negócios não-cíclicos, os analistas ressaltam principalmente o setor de saúde, que deve ter o melhor desempenho da área com aumento de 18% no lucro por ação.

Por fim estão as companhias de tecnologia. O Credit projeta que todos os subgrupos devem ter alta de dois dígitos no EPS, sendo que as varejistas online devem ter o melhor desempenho, com alta de 85%, enquanto as de software terão o menor crescimento, de 15%. Por outro lado, os analistas alertam que as techs devem ser as únicas a ter queda nos ganhos no segundo trimestre.

Sobre o que ficar de olho, o BofA ressalta a importância dos comunicados das empresas, mais do que os números. Para os analistas, o capex (investimentos em capital) e a inflação serão os principais temas dessa temporadas de resultados.

Em relatório, o banco americano destaca que o capex melhorou pelo segundo trimestre seguido no fim do ano passado e que esse cenário deve se manter, suportado por uma renovação dos equipamentos mais antigos das empresas, além da alta nos preços das commodities.

Enquanto isso, o impacto da inflação deve ser o tópico principal das discussões após as companhias mencionarem o assunto 60% vezes mais no quarto trimestre quando comparado com um ano antes.

“Apesar do aumento nos preços das commodities, as menções aos custos de mão de obra superaram as menções às matérias-primas, o que é consistente com nossa avaliação, que sugere que as empresas estão mais preocupadas com a pressão salarial do que com os custos das matérias-primas”, avalia a equipe do BofA.

Diante disso, o levantamento do banco aponta que os setores de materiais básicos (como metais e mineração, papel e celulose) e financeiro devem apresentar os melhores desempenhos nos resultados, enquanto as utilities (serviços básicos, como energia e saneamento) e imobiliárias devem ter os piores números.

Em geral, as companhias americanas devem ter uma ótima temporada de resultados, com os bancos mostrando isso logo neste início a partir de quarta, mas o investidor precisará ficar atento às projeções e ter em mente que mesmo que as empresas superem as já otimistas projeções, o desempenho das ações podem não seguir na mesma toada.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.