Luiz Barsi aproveita queda e compra mais 1,5 milhão de ações do IRB (IRBR3); o que mais está na carteira de um dos maiores investidores da Bolsa brasileira

Ele chegou a perder mais de R$ 2 bi em 2020, mas recuperou o prejuízo com folga e diz que não se abalou: o que importa são dividendos, atuais e projetados

Katherine Rivas

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Falta um mês para Luiz Barsi Filho, um dos maiores investidores individuais da Bolsa, completar 83 anos. Mas ele já está se presenteando antecipadamente. Enquanto os investidores sofrem com as oscilações de ações como IRB (IRBR3) e Cielo (CIEL3), Barsi aproveita a queda dos papéis para comprar mais.

Arrepende-se de ter comprado ações controversas como essas no passado? A resposta é não. “Estou até vibrando com a cotação da Cielo, que está baratinha, porque estou comprando bastante”, afirmou ao InfoMoney.

Sua relação com IRB é semelhante. Na sexta-feira (4), quando a cotação caiu para R$ 2,82, o investidor adquiriu mais 1,5 milhão de ações da empresa, aumentando ainda mais a participação no seu capital – e quase “de graça”, como ele define. Estima-se que tenha desembolsado R$ 4,5 milhões na operação.

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“Ainda estou comprando IRB para médio e longo prazo”, revela, reforçando sua crença de que, a partir de setembro, a resseguradora começará a entregar resultados positivos.

As ações do IRB caíram 50,9% em 2021, e as da Cielo, 38,9%. Já neste ano, a Cielo avançava 1,8% até dia 8 de fevereiro, enquanto o IRB ainda amargava perdas de 23,4%.

Mesmo com os aportes, as ações das duas empresas não representam nem 3% de sua carteira de ações – que, segundo o próprio, passa de R$ 4 bilhões. O restante do patrimônio está investido principalmente em papéis de empresas que pagam dividendos elevados, estratégia que ele chama de carteira de ações previdenciária, que segue sem trégua há décadas e o transformou em bilionário e numa referência para os investidores de varejo.

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Mas patrimônio, diz Barsi, é só “questão de ego”. Em 2020, o seu despencou de R$ 3 bilhões para R$ 900 milhões, disparando em 2021 para os patamares atuais. O que importa, garante o investidor, são os dividendos – que, em 2021, somaram R$ 200 milhões. O valor foi reinvestido em ações.

Embora Cielo e IRB não paguem dividendos elevados no momento, Barsi enxerga nelas oportunidades de obter bons proventos para o futuro. “Eu não compro só empresas que paguem bons dividendos, compro aquelas que apresentam perspectivas de pagar bons dividendos”, aponta.

Chamado de “rei da Bolsa” por sua relevância no mercado – ele opera há 53 anos, apenas um a menos que a “idade” do Ibovespa, criado há 54 anos –, Barsi recebeu o InfoMoney nesta semana no seu escritório no centro de São Paulo e contou onde mais está investindo agora.

As maiores posições da carteira

As maiores posições da carteira previdenciária do Luiz Barsi atualmente são companhias reconhecidas como boas pagadoras de proventos, compradas há alguns anos.

É o caso de Unipar (UNIP6; UNIP3; UNIP5), hoje a principal posição da sua carteira, ocupando em média 40% do portfólio – e comprada quando custava apenas R$ 0,25. Atualmente, os papéis custam cerca de R$ 100.

Além da valorização, a ação distribuiu dividendos generosos ao longo dos anos. Em 2021, o dividend yield, ou retorno com dividendos, taxa obtida quando se divide o total de dividendos pelo preço da ação, chegou a 30%. Em 2017, foi de quase 74% (veja o quadro abaixo).

Outra ação que tem uma participação relevante é a do Banco do Brasil (BBAS3). Barsi começou a comprar as ações do BB na década de 1980 por ver a instituição como boa pagadora de dividendos, que remunera os acionistas praticamente todo mês. As demais posições de destaque são Klabin (KLBN4) e AES Brasil (AESB3).

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Embora estas ações ocupem fatias generosas de sua carteira, não são necessariamente os papéis que Barsi está comprando no momento. Para ele, “no dividendo você ganha por quantidade possuída, e não pelo valor aplicado”.

Um exemplo disso foi quando ele decidiu vender toda a sua posição em BB Seguridade (BBSE3), negociada acima dos R$ 20, em 2021, para comprar mais ações do IRB, atualmente cotadas perto de R$ 3.

O que Luiz Barsi está comprando agora?

Entre as melhores oportunidades para 2022, Barsi tem cinco preferidas: além de Cielo e IRB, também Vibra Energia (VBBR3), Cosan (CSAN3) e Banco do Brasil (BBAS3).

Com exceção do Banco do Brasil, que Barsi carrega há décadas, todas estas companhias fazem parte de uma posição que ele começou a montar em 2021 e nas quais continua fazendo aportes neste ano.

Ele afirma que está comprando ativamente Cielo, Vibra e Cosan. No caso de IRB, tem montado uma posição aos poucos, com uma visão de médio e longo prazo.

Com Banco do Brasil, cotado atualmente acima dos R$ 30, sua estratégia é esperar cair para comprar mais. “Abaixo dos R$ 30, sempre fazemos compras pontuais”, diz. O atrativo são os dividendos. Em janeiro o Banco do Brasil anunciou um payout – parcela do lucro líquido distribuído aos acionistas na forma de proventos – de 40% para o exercício de 2022.

“Não tem o que discutir nem dialogar, é comprar a ação e pronto”, comenta.

Barsi acredita que o Banco do Brasil tem uma boa perspectiva de alavancagem (endividamento) pela frente. Um dos motivos para que seja um bom pagador de proventos é a necessidade de suprir um dos seus maiores acionistas, a Previ (fundo de pensão do próprio banco), que precisa de caixa disponível. “O Banco do Brasil sustenta de alguma forma isso”, diz.

Em relação a Vibra Energia (VBBR3) e Cosan (CSAN3), Barsi destaca o perfil verticalizado das companhias. A Vibra Energia, antiga BR Distribuidora, passou a agregar outros produtos no portfólio além da distribuição de combustível. “Ela passou a operar na compra e venda de energia. Seu CEO, Wilson Ferreira, é uma das pessoas mais qualificadas do país”, avalia. A Cosan, por sua vez, produz álcool nas suas usinas, comercializa, vende nos postos da Shell e exporta se for necessário.

“Se os controladores da Vibra compraram os 36,7% da Petrobras [fatia que a estatal possuía da empresa, vendida em 2021], relativos à BR Distribuidora, e pagaram R$ 26 por ação, porque eu não pagaria R$ 22 pelo papel atualmente?”, justifica.

Cosan e Vibra distribuíram dividendos nos últimos anos, embora não generosos.

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“Vibrando” com a Cielo

Embora muito criticadas pelo mercado, Cielo e IRB se tornaram as meninas dos olhos de Barsi.

A ação da Cielo é uma das preferidas: ele diz que está muito barata para ser ignorada. Para o investidor, a subavaliação se deve a alguns fundos que operam vendidos, alugando os papéis para vendê-los, apostando na queda. Ele explica que a prática era muito comum quando a companhia dava prejuízo. Recentemente, no entanto, a Cielo reportou lucro líquido de R$ 336,9 milhões no quarto trimestre do ano passado.

No acumulado de 2021, o lucro líquido da empresa foi de R$ 970 milhões, um crescimento de 98% na comparação com 2020, superando as projeções do mercado. “A Cielo está dando lucro extraordinário e vai aumentar, o pessoal não tem observado essa questão”, defende Barsi.

Barsi critica a postura dos agentes do mercado que continuam recomendado aos investidores a venda do papel ou optando por uma posição neutra. “Ela deu R$ 970 milhões de lucro e paga dividendo trimestral, não sei o que mais o pessoal quer”, questiona.

Apesar das melhorias, os analistas colocam como justificativa da cautela com o papel a dificuldade para expansão das receitas em meio à maior concorrência e a queda de margens da companhia.

“Não me arrependo de comprar IRB”

Em julho de 2021, Barsi se tornou um dos principais entusiastas de IRB ao comprar ações da resseguradora e chegar a uma participação superior a 1,5% no seu capital social.

Em um fogo cruzado, do outro lado estava Guilherme Aché, sócio fundador da Squadra, gestora que alegou ter encontrado inconsistências nos demonstrativos financeiros da empresa de resseguros em 2020. Aché reforçava a sua posição vendida, apostando na queda dos papéis.

Na época, Barsi defendia que o pior momento da IRB tinha ficado no passado e que, após uma reestruturação, a companhia entraria em uma trajetória de resultados positivos, rendendo seus frutos no intervalo de um ano.

A ação, que na época era negociada perto dos R$ 6, agora está no patamar de R$ 3. Mas a visão do investidor não mudou. “Eu não me arrependo, porque o IRB ainda não concluiu a expectativa e projetos que eu coloquei sobre ela”, afirmou ao InfoMoney.

Segundo Barsi, após a reestruturação promovida pelo ex-CEO e presidente do Conselho, Antonio Cassio dos Santos, a companhia estaria pronta para entregar resultados positivos e pagar bons dividendos.

Ao falar sobre a queda contínua das cotações de IRB, Barsi afirmou que o pequeno investidor tem que pensar como “um agiota de longo prazo”. “Você coloca seu dinheiro na poupança e deixa lá por três ou quatro anos rendendo nada. Se você tiver o mesmo temperamento com as ações, em dois anos você pode ganhar dez vezes mais do que a poupança”, diz. “A pessoa quer comprar ações hoje e ficar rico amanhã”.

Ele ainda exemplificou esta visão com a postura dos principais acionistas da resseguradora, o Bradesco e o Itaú, com participação de 15,8% e 11,5% da IRB, respectivamente. “Você não os vê vendendo tudo, para depois recomprar as ações. Eles estão lá, parados”.

Barsi acredita que o preço das ações é anormal, fruto do aluguel dos papéis. Ele aponta que existem 174 milhões de ações do IRB alugadas, o que representaria 13% da emissão total da companhia. “Esses papéis vendidos manipulam o preço, a cotação da IRBR3 é artificial”, defende.

Em relação a um relatório do Citi, apontando que o IRB deve precisar um novo aumento de capital, após conversas com diretores da companhia, Barsi afirma que analistas “utilizam critérios de curto prazo para analisar projetos de longo prazo”.

A tese da Taurus

Entre as exceções de Barsi – ao incluir companhias na carteira que não pagam dividendos mas que podem vir a pagar bons proventos no futuro – está a Taurus (TASA4).

Barsi comprou a fabricante de armamento por centavos, observando a perspectiva de futuros dividendos. “Agora ela custa cerca de R$ 21 e já não representa o mesmo dividend yield que tinha quando a comprei, a centavos”, esclarece.

A companhia pagou dividendos até 2013, quando começou a acumular prejuízos e dívidas. Em 2018, com a troca de controle e Salesio Nuhs assumindo como CEO, a empresa iniciou uma reestruturação. Em 2021, a Taurus passou por um processo de incorporação de capital que visava zerar o valor dos prejuízos acumulados entre 2015 e 2017, reduzindo o capital social da companhia para se preparar para voltar a pagar dividendos.

O InfoMoney procurou a Taurus e a companhia confirmou que está apta a pagar dividendos em 2022 e pode começar a distribuir proventos a partir de abril, se aprovado na Assembleia Geral dos Acionistas (AGO).  Caso isso aconteça, os dividendos pagos devem ser correspondentes ao exercício da companhia em 2021. O payout não foi revelado pela empresa.

Embora seja uma companhia de um setor controverso, que vai na contramão dos princípios ESG (ambiental, governança e social), Barsi escolheu a Taurus por ser uma das poucas empresas brasileiras que exportam um produto manufaturado. “As nossas exportações são de grãos. A Taurus representa a indústria e é colíder em vários países, inclusive nos Estados Unidos”, defende. A empresa exporta para cerca de 70 países.

O rei da Bolsa acredita que 2022 será um bom ano para a distribuição de proventos no mercado brasileiro de modo geral. Ele cita que a maioria dos empresários já convive com a perspectiva de tributação dos dividendos no Brasil, medida que integra a proposta de reforma do Imposto de Renda, levada ao Congresso Nacional em 2021 e atualmente em tramitação no Senado.

Barsi diz que muitas companhias se anteciparam e usaram caixa para pagar dividendos antes de a mudança ser implementada, o que ajudou a distribuição de dividendos a ser recorde no ano passado (foram R$ 200 bilhões só até setembro).

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.